segunda-feira, abril 09, 2007

Acordar um dia

O sol estava novamente lá no alto, a chuva do dia anterior partira e no raiar do novo dia nem o cheiro a terra molhada ficara, quase como se as semanas de chuvada incessante não tivessem acontecido. Acordou, a custo abriu os olhos, como uma criança que pela primeira vez contempla o mundo, aprendia de novo as cores, os sons, como era belo o céu azul que via pela janela do quarto, levantou-se e abriu a janela e logo uma doce brisa tomou conta de si, inspirou o aroma do mar que o refrescava, que corria pelo seu corpo renovando suas forças, renasceu!
Que tentadora sensação esta, onde estaria a dor de cabeça dos dias que não mais eram que difusas memórias? Onde estava aquele aperto, aquele nó que não o deixava respirar? Fechou os olhos e de novo inspirou bem fundo o ar da manhã, escutou com deleite o som do mar, não ouvia mais nada, era parte daquele universo que se criava naquele momento, era onda, raio de sol, era grão de areia, era ar.
Deixou que aquela maravilhosa sensação tomasse conta de si, saltou para a praia e era cada vez mais uno com aquele novo mundo, sentiu a areia ainda fria entre os dedos, apreciou cada segundo aquela doce música que o mar cantava, absorveu o calor que o sol lhe dava, sem hesitar entrou na água e era senhor, a água não era fria nem quente, também ela fazia parte de si, a temperatura a mesma. Abriu então os olhos e o mundo não era mais que uma praia deserta com seu calmo mar e brilhante sol, ele não mais era que grão de areia mas sentia com orgulho a responsabilidade de o ser, abraçou o facto de fazer parte do mundo, aceitou com respeito que como grão que era seria pisado milhões de vezes, percebeu que seria cama para amantes com seus corpos apaixonados, que seria palco dos primeiros e tímidos passos de crianças chorando por não perceberem que piso era este que fugia entre seus pequenos pés, soube que seria palco de magníficos jogos entre titãs da praia, seria parte de rudimentares ou trabalhados castelos, imaginou lágrimas a cair da face de jovens de coração quebrado aterrando em cima dele, sentiu-se capaz de com toda a sua preponderância de grão de areia mostrar a essas jovens que tudo terá solução, que podem chorar à vontade no seu ombro pois basta olhar em frente e verão no mar a solução...
Amou então a vida e a oportunidade que lhe era dada, fechou de novo os olhos e inspirou uma vez mais, abraçou o mar sentindo o calor do sol bafejar-lhe a cara como se a própria sorte encarnasse no rei dos astros e lhe soprasse para a face, abriu os olhos e novamente no seu quarto bem longe da praia respirou o ar que não tinha restos de sol, brisa ou mar mas que era ainda mais perfeito. Era o ar da compreensão que podia ser grande, podia aprender de novo e crescer, agradeceu intimamente e levantou-se para cimentar o seu novo mundo!